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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Poluição cultural


Recentemente, me deparei com a seguinte situação: Lá estava eu na fila do CineMark do Tamboré shopping, que vai em breve perder toda clientela residente em Alphaville para o novo Iguatemi, ainda em construção. Digo isso porque já se nota a maioria esmagadora no local formada por moradores de Carapicuíba, Osasco e arredores, promovendo uma miscigenação pouco experimentada por nós, acostumados com Alphaville.
Voltando então à fila do cinema, noto a presença de dois jovens a minha frente conversando de maneira muito emotiva. Não pude deixar de notar seus penteados pavorosos e talvez até uma maquiagem, mas devo ter me enganado. Para ocupar o tempo, resolvi puxar papo com os dois, pergunto de onde são. Desinteressados, me ignoram. Insisto, e pergunto a que filme vieram assistir.
- Chegamos aqui há três horas para conseguirmos assistir à pré-estréia de Eclipse. - respondem de cara fechadas.
- Ah, que engraçado, minha filhinha de seis anos veio ver Lua Nova e disse que adorou. Por uma semana ela só falava num tal de Edward.
- É, ele é o galã do filme.
Um deles tirou assim do bolso um ipod começou a ouvi-lo e aparentemente a se emocionar. Após uns dois minutos, me ofereceu para escutar a uma banda que cultuava. Aceito, e coloco os fones no ouvido. Assim que a música começa a tocar, também quase choro, por descobrir que sons tão horríveis e letras tão vazias como aquela arrastam multidões de jovens, como o garoto me explicara.
Fingindo gostar do que ouço, procuro desesperadamente naquele aparelho por algum Beatles, Tears for Fears, Red Hot Chillie Peppers, Mettalica. Os únicos nomes que encontro, porém são Restart, Nx0, Hevo84 e Cine. Tudo igual. Na seção de vídeos, clico na primeira opção disponível, em uma tentativa de aliviar meus tímpanos. Vejo então os autores do crime, talvez pela primeira vez.
Moleques descabelados, coloridos e afeminados juntos produzindo vibrações estridentes e detestáveis, pelo menos para meu gosto. Certamente os dois jovens no cinema não dividem a mesma opinião que eu acabo de dividir, e então recomeço um diálogo.
- Escutem, vocês gostam mesmo dessas bandas ou só escutam por ser “modinha”.
- Você “ta” brincando? Eles são in-crí-veis!!- repetem revoltados e em coro.
Agora percebo que estão mesmo maquiados, e noto cortes em seus braços. Olhando mais atentamente ao meu redor, no shopping, encontro ao menos mais uma meia dúzia desses indivíduos em grupos, mas ao mesmo tempo tão solitários.
Lembro de uma época em que o fascínio por um bom rock clássico era quase unanimidade, e quem não gostasse de Ultraje à Rigor ou Legião Urbana recorriam ao samba. Acontece que atualmente as produções nacionais no ramo musical são tão precárias que muitos vêem bandas como Restart a melhor opção, e pode ser que, infelizmente, a culpa não seja deles.
Voltei para casa sem nem mesmo me lembrar do que se tratava o filme que acabara de assistir. Ligo meu disc-man e relembro os bons tempos em que a música tinha uma finalidade e penso:
- Às vezes é melhor se prender no passado que acordar para o terrível presente que nos cerca.

2 comentários:

  1. Gostei, embora tenha que fazer a ressalva acerca do lance do "público" do shopping Tamboré...ficou inadequado como você apresentou e o leitor que não te conhece, pode pensar que você também quer se separar deste público.Em relação à crítica das bandas atuais, fantástico. Aliás, dê uma linda nesta matéria:http://colunistas.yahoo.net/posts/5055.html
    Beijo!

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